segunda-feira, 8 de junho de 2015

O apoio da equipe pedagógica


Todo processo leva certo tempo, toda demanda certo investimento, exige muito de quem se envolve e até de quem não está muito disposto, mas em certo momento se vê obrigado a enfrentar tudo isso. Como haveria de ser diferente no processo educativo?

A equipe pedagógica de uma instituição escolar, quando bem envolvida, eu diria comprometida com o processo de desenvolvimento dos alunos, faz a diferença no acompanhamento e tratamento das mais variadas situações de “dis-habilidades”.

O educador nem sempre está preparado para enxergar as coisas diferentes que ocorrem na vida intelectual e prática dos seus alunos, muito frequentemente se vê educadores intrigados com uma percepção de que “algo está fora do lugar”, que há um buraco na vida daquela criança, daquele adolescente, mas este algo fica pairando na sua observação diária, meio sem resposta por muito tempo.

Há que se lembrar, levar em consideração, que um ano letivo é muito curto, muito menor que o ano do calendário, que as horas de aula são infinitamente menores que as horas da vida real, que enquanto estamos elucubrando sobre determinados comportamentos e resultados de estudos de nossos alunos, o relógio não pára, parece até que se acelera! Perde-se muito tempo tentando achar respostas, e quanto mais se está sozinho na sala de aula, na tarefa de formar, intrigar, avaliar, educar, mais demorada e ineficaz é a tarefa de auxiliar a criança que necessita de uma ajuda extra, a criança que pode ter a sua parte “dis-habilidosa” em evidência.

Não é novidade que o trabalho em equipe é mais completo, mais cativante, mais competente, e assim sendo, a equipe técnica, seja ela composta por psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, e tantos outros especialistas, têm a tarefa de não só trabalhar nas especialidades, mas também com a integração entre seus saberes, oferecendo ao educador uma bagagem valiosa para o caminhar com tais crianças.

Não é tarefa fácil unir e combinar adequadamente os olhares e condições de trabalho de tantos profissionais. É necessário caminhar entre várias linhas de entendimento, abrir mão de fatores que compõem nossa bagagem profissional, ter uma visão mais ampla, talvez holística da situação, da pessoa e seu meio. Traçar metas, planejar situações, ter flexibilidade para reajeitar tudo quando necessário...

Não quero desiludir os mais novos, tampouco desvalorizar nosso trabalho quando mais experientes, e sim declarar os entraves que muitas vezes dificultam a superação de tantas crianças que precisam de ajuda, que não se enxergam habilidosas, que não são aceitas e compreendidas pela sociedade.

Eu quero despertar em meus colegas de trabalho, professores e outros profissionais do meio a discussão do que ajuda e do que não ajuda a despertar tais habilidades em uma vida em formação. Vamos falar mais sobre isso?


Competência observatória do educador


Um dos grandes desafios para o educador é enxergar a individualidade na complexidade do grupo com o qual ele trabalha. O grupo é seu principal elemento de trabalho, é nele que as mais variadas facetas sociais se apresentam, é por ele que se trabalha, é em prol dele que se organiza. A formação do educador prioriza o grupo escolar, as metodologias pouco oferecem para que ele possa trabalhar as diversidades e individualidades, a estrutura escolar nem sempre favorece o olhar e a ação diferenciada, e por aí vai uma lista de condições que desfavorecem um olhar específico para as habilidades e “desabilidades”, que, muitas vezes, manifestam-se em sala de aula. A verdade é que somos formados para usar algumas formas com nossas crianças, quem é que nos capacita para a diversidade que existe na unidade?

A dificuldade não deve ser combustível para justificar as negligências que ocorrem no tocante à detecção de distúrbios, transtornos e síndromes que comprometem o desenvolvimento do educando. Pelo contrário, deve ser incentivo para desafiar este educador, que tem a percepção de que algo está acontecendo debaixo de seu nariz, a buscar capacitação, parceria, trabalho produtivo e a melhora da criança a qualquer custo.

Nestes tantos anos trabalho escolar, posso garantir que são mais de 20... convenci-me de que o educador tem que aprimorar sua capacidade observatória, mais que qualquer outra habilidade, a fim de detectar quando uma criança está pedindo socorro, quando algo a está impedindo de se desenvolver e, principalmente, de discriminar quando isso é motivado por uma condição ambiental ou fisiológica, se pode ser resolvida com pequenas alterações na rotina, na escola, ou se é necessário ter acompanhamento especializado. Você pode me dizer que isto não é tarefa do educador, movido por comentários do senso comum, que dizem que o educador deve formar. Mas se o educador não enxerga tais problemas, quem enxergará? A família, certamente, está envolvida emocionalmente a tal ponto de não enxergar ou até negar as dificuldades desta criança. É o educador que tem os critérios, não por acaso do grupo, para analisar o que destoa dele.

A Inclusão, tão falada, regulamentada, estudada, implementada nos últimos anos, faz-me pensar até onde os educadores estão preparados e amparados (por quem?) para a demanda que vem ocorrendo na escola. Uma vez, meu diretor me arguiu: “Quando estaremos preparados, se nunca nos desafiarmos a encontrar o caminho, se nunca aceitarmos as crianças “especiais”, de coração?”.

Nunca me esqueci dessa fala!